Preciso entregar um texto sobre o Coldplay desde o ano passado, quando assisti ao documentário a “Head Full of Dreams” sobre os 20 anos de estrada da banda inglesa. Estou adiando devido ao turbilhão de acontecimentos que transformaram minha rotina nos últimos três meses. Mas agora, talvez, eu consiga. E quem sabe começando por aqui.
Tenho uma história com Coldplay. Eu e milhões de fãs ao redor do mundo, é claro. Mas toda vez que eu ouço Coldplay, volto no tempo em que a MTV transmitia os clipes da banda. Volto no tempo quando minha mãe descobriu que tinha câncer. E aí minha história começa.
É claro que eu já conhecia “Yellow”. Quem não conhecia? Aliás, o primeiro álbum é espetacular. Redondinho. E o documentário mostra bem como Chris Martin tinha certeza que chegaria ao topo. Predestinado.
“Nobody said it was easy”. “The Scientist”. Segundo álbum do Coldplay. A Rush of Blood to the Head. 2002. Se não me engano, foi por causa do clipe dessa música na MTV (saudosos Top 10, Top 20) que minha mãe conheceu a banda. É triste e inesquecível. Sobre um acidente de carro filmado de trás pra frente. “I’m going back to the start”. A letra termina assim.
“Clocks”. Lembro da minha mãe assistindo ao clipe dessa música todo santo dia. Menos triste. “Confusion that never stops/The closing walls and the ticking clocks”.
2007. Show do X&Y (terceiro da banda) no Via Funchal, em São Paulo. Comprei meus ingressos pela internet. Tinha um PC 486 com dial-up. A primeira tentativa não deu certo. Entrei no site novamente e lá se foram meus assentos. Consegui comprar na quarta fila (se não me engano). R$ 400 na VIP. Duas inteiras. Uma fortuuuuna hoje, imagine na época. Paguei com meu salário de editora.
Perto dos shows do Coldplay que lotam estádios hoje em dia, os de 2007 foram superintimistas. No Via Funchal, cabiam 2.700 sortudos. E foi simplesmente inacreditável. Sentei do lado de uma menina de Manaus. E no final do show, saímos da fileira e fomos para a frente do palco. De cara com a banda. Tocamos na mão do Chris.
Só me arrependo de não ter levado máquina fotográfica. Total absurdo. E minha tia, que morava em SP, ainda conseguiu assistir ao final do show de graça e registrou umas fotos pelo celular dela (que não era um BlackBerry, top na época).
Extasiadas, pegamos um táxi para voltar pra casa dela. Só que não. Fomos nós para o bar do hotel na Oscar Freire (acho que era o Fasano) onde a banda estava hospedada. Mas, calma, eu não queria tietar. Afinal, estava sem máquina fotográfica. Eu tinha um propósito.
O bar estava vazio. E, sinceramente, achava impossível chegar perto dos caras. O máximo que podia acontecer era jantarmos e pronto. Lembro que eu pedi um Cosmopolitan ao estilo Sex And The City e que havia um trio tocando bossa nova.
Até que…de repente… Chris Martin, ele mesmo, aparece em carne e osso. Eu não sabia o que fazer. Disfarcei. Ele ficou lá curtindo uma musiquinha e….foi embora. Eu fui atrás. Precisava falar o verso de “Clocks” adaptado.
E o mais incrível foi que um rapaz que trabalhava no hotel me ajudou. Me lembro perfeitamente do Chris, com quase 1,90 de altura, cabelos encaracolados, olhos azuis. olhando pra baixo, em minha direção. Eu mal conseguia falar português, imagina inglês. Mas ele captou a mensagem (o rapaz do hotel me ajudou de novo). “Am I part of the cure, or am I part of the disease?”, diz o verso de “Clocks”. E eu consegui falar pro Chris, em inglês, que ele foi parte da cura da minha mãe. Ele deu um sorrisão. I got it!
E assistindo ao documentário, dia 14 de novembro de 2018, lembrei-me de tudo. Soube que X&Y foi o álbum de uma fase difícil da banda, depois do estrondoso sucesso que foi o segundo disco. Assim, tudo fez mais sentido. Até o fato de eles se apresentarem de preto. E quando tocou “Yellow”, é claro, eu chorei. E no cinema, nos letreiros, eu chorei ouvindo “The Scientist” ao lado da minha mãe.
E graças à minha tia, tenho uma recordação com poucos pixels, mas com uma resolução de vida incrível!